“Ninguém que se encontre reencarnado em regime de exceção, indene ao sofrimento e aos testemunhos defluentes da larga jornada empreendida desde recuadas eras…Trazendo em germe a necessidade insculpida no perispírito que lhe modelou os equipamentos orgânicos de maneira a propiciar-lhe os resgates inadiáveis, ressurgem os marcos danosos requerendo regularização e ordem, mediante processos de ação dignificadora, atividades regenerativas, sofrimentos reparadores, testemunhos significativos, superação das paixões perversas…
Joanna de Ângelis Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Atitudes Renovadas
A condição essencial de todos nós é a de espíritos, quer acreditemos ou não haveremos de dar conta dessa realidade inexorável. Somos espíritos ora circunstanciados pela matéria, a fim de vivenciarmos as experiências necessárias à evolução. Nós interexistimos entre a esfera física e a espiritual, sempre inscritos em processos pedagógicos de existir desde prisco tempo, a fim de avançarmos. A forma como a disciplina existencial se nos apresenta está intrinsecamente relacionada às nossas ações anteriores.
Tudo o que realizamos tanto na existência atual quanto nas transatas nos vincula a situações de dor ou de felicidade conforme a lei de causa e de efeito. Nosso passado espiritual está expresso nas cores com que se apresentam as páginas de nossa vida.
A reencarnação significa, portanto, para nós espíritos, uma oportunidade pedagógica e terapêutica. Pedagógica porque renascemos situados nos processos educativos necessários a refazer, a realinhar o que, no passado, ficou desarmonizado às leis divinas. Há delitos praticados pelo ser humano que não podem ser ou não foram alcançados pelas leis humanas, mas que ficam marcados na consciência daqueles que os perpetram.É o que Joanna de Angelis refere como sendo as marcas morais a serem diluídas no enfrentamento de si mesmo que a reencarnação engendra:
“Os fatores que programam as condições do renascimento do corpo físico são o resultado dos atos e pensamentos das existências anteriores. Ser feliz quanto antes ou desventurado por largo tempo depende do livre-arbítrio pessoal. A opção por como e quando agir libera o Espírito do sofrimento ou agrilhoa-o nas suas tenazes.A vida são os acontecimentos de cada instante a se encadearem incessantemente. Uma ação provoca uma correspondente reação, geradora de novas ações, e assim sucessivamente. Desse modo, o indivíduo é o resultado das suas atividades anteriores. Nem sempre, porém, se lhe apresentam esses efeitos imediatamente, embora isso não o libere dos atos praticados.” (Joanna de Angelis, Psicografia de Divaldo Franco. Livro : Plenitude)
Assim, a vida que se forma no ventre materno não é um nada em si mesmo. Desde o momento da concepção, quando o novo corpo físico começa a se organizar, a ele já está vinculado um espírito, ou seja, um ser humano, uma inteligência, necessitando passar pelas circunstâncias educativas para sua própria felicidade e daqueles com quem está comprometido. Há um sofrimento atroz para este ser, que associado a esta mãezinha na poeira do tempo, precisa renascer. Há também um sofrimento talvez ainda maior daquela mulher que abortou, quando se der conta de que impediu o ser a quem estava vinculada de nascer.
A legalização do aborto não pode estar na agenda dos direitos humanos da mulher. Não se trata de um avanço, mas da aceitação de uma ignonímia, um retrocesso da consciência humana. Aqueles que laboram em reuniões de socorro mediúnico, não raro tem a oportunidade de acolher espíritos de mulheres que praticaram o aborto e que desencarnadas, expressam em suas aflições o arrependimento pelo ato impensado. Tudo que nos acorre, e a gestação de um filho em especial, não é obra do acaso, mas a expressão de nossas escolhas transatas, anos apontar um roteiro de responsabilidades e vivências educativas necessárias ao avanço espiritual.
Nesse ponto, cabe destacar que a palavra educação vem do latim educere e significa tirar de dentro, ou seja, possibilitar ao educando fazer emergir de si mesmo sua potencialidades. Eis, então, o que significa a reencarnação para nós: inscrever-se em situações existenciais, que não obstante passageiras, vão possibilitar o trabalho de pinçar de dentro de nós o melhor que podemos ser. O aborto ceifa esta oportunidade pedagógica.
A outra face da reencarnação é a de oportunidade terapêutica. Renascer, por vezes, é curar-se. Para melhor explicar, é preciso falar um pouco do perispírito. O perispírito é o envoltório sutil do espírito. É um corpo psicossomático, semimaterial, ou melhor, matéria quintessenciada. Na questão 135 do O Livro dos Espíritos, pode-se ler:
135 – Há no homem alguma outra coisa além da alma e do corpo?
“Há o laço que liga a alma ao corpo.”
135 a: De que natureza é esse laço?
“Semimaterial, isto é, de natureza intermediária entre o Espírito e o corpo…”. E nota de rodapé, o Professor Kardec assim elucida:
“O homem é, portanto, formado de três partes essenciais: 1o – o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2o – a alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação; 3o – o princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num fruto, o gérmen, o perisperma e a casca.”
Ocorre que este corpo psicossomático funciona como uma espécie de memória de computador. Neles ficam registradas, ou melhor marcadas nossas obras, nossas atitudes, erros e acertos, sendo que o perispírito também é, nas palavras de Joanna de Angelis, o modelo organizador biológico, é ele que implementa, na memória das células, a saúde ou a moléstia do corpo físico. Nossos atos e pensamento desatinados da Lei Divinadeixam marcas profundas no corpo mental e, por conseguinte, maculam o corpo biológico. Muitas das doenças que desenvolvemos no corpo físico, já estavam marcadas do corpo espiritual. Ao reencarnarmos, o corpo físico como que drena a mácula que estava no perispírito, ao passo que a pessoa irá vivenciar as sequelas das próprias ações e escolhas pretéritas agora em um corpo que se apresenta, por exemplo, com mutilações ou com transtornos mentais.
Vejamos o que ensinam os benfeitores:
“Esse corpo que evolve e se aprimora nas experiências de ação e reação, no plano terrestre e nas regiões espirituais que lhe são fronteiriços, é suscetível de sofrer alterações múltiplas, com alicerces na adinamia proveniente da nossa queda mental no remorso, ou na hiperdinamia imposta pelos delírios da imaginação, a se responsabilizarem por disfunções inúmeras da alma, nascidas do estado de hipo e hipertensão no movimento circulatório das forças que lhe mantêm o organismo sutil, e pode também desgastar-se, na esfera imediata à esfera física, para nela se refazer, através do renascimento, segundo o molde mental preexistente, ou ainda restringir-se a fim de se reconstituir de novo, no vaso uterino, para a recapitulação os ensinamentos e experiências de que se mostre necessitado, de acordo com as falhas da consciência perante a Lei.” ( André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier. Evolução em Dois Mundos)
Da leitura se depreende que o perispírito é o molde mental que organiza o corpo físico. É um corpo feito de matéria quintessenciada que vai se aprimorando, conforme nossa melhoria moral. Sobre este aspecto, Joanna de Angelis é categórica:
“De importância máxima no complexo humano, é o moderno Modelo Organizador Biológico, que se encarrega de plasmar no corpo físico as necessidades morais evolutivas, através dos genes e cromossomos, pois que, indestrutível, eteriza-se e se purifica durante os processos reencarnatórios elevados. (…) Pode-se dizer, que ele é o esboço, o modelo, a forma em que se desenvolve o corpo físico. É na sua intimidade energética que se agregam as células, que se modelam os órgãos, proporcionando-lhes o funcionamento. Nele se expressam as manifestações da vida, durante o corpo físico e depois, por facultar intercâmbio de natureza espiritual. É o condutor da energia que estabelece a duração da vida física, bem como é responsável pela memória das existências passadas, que arquiva nas telas sutis do inconsciente atual, facultando lampejos ou recordações esporádicas das existências já vividas.” (Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo Franco. O Homem Integral)
Eis então que nossas doenças, males fisícos e mentais estão a apontar para nós mesmos, nossos atos passados, e são oportunidades da cura real. Quando, por exemplo, alguém passa por uma existência na cegueira ou a paralisia dos membros, ela está retificando-se, reorganizando-se. Passada esta existência, enfrentada com coragem a prova, a mácula moral que desarmonizava o perispirito ficará saneada, resultando assim numa próxima oportunidade de renascer sem limitações físicas. Isso explica o motivo de não se dever abortar o anencéfalo.
O espírito que passa por esta experiência, de alguma forma maculou o perispírito, por exemplo, deserdando da vida física com tiros na cabeça ou jogando-se de grandes alturas. A desordem promovida por seu ato insano atinge os delicados tecidos do corpo espiritual, necessitando assim passar nove meses no ventre materno, para, num corpo anencéfalo, começar a reestruturar-se. Dessa forma, o que parece uma aberração da natureza é, na verdade, um abençoado e delicado processo terapêutico. É o começo da cura.
A mulher que gesta um anencéfalo ou o ama profundamente e por isso aceitou passar por esta prova, ou se sente culpada pelo seu suicídio. Joanna de Angelis bem explica essa realidade nossa, quando elucida por que razão não se deve abortar o anencéfalo:
“Na imensa gama de instrumentos utilizados para o autocídio, o que é praticado por armas de fogo ou mediante quedas espetaculares de edifícios, de abismos, desarticula o cérebro físico e praticamente o aniquila…Não ficariam aí, porém, os danos perpetrados, alcançando os delicados tecidos do corpo perispiritual, que se encarregará de compor os futuros aparelhos materiais para o prosseguimento da jornada de evolução.É inevitável o renascimento daquele que assim buscou a extinção da vida, portando degenerescências físicas e mentais, particularmente a anencefalia. Muitos desses assim considerados, no entanto, não são totalmente destituídos do órgão cerebral. Há, desse modo, anencéfalos e anencéfalos. Expressivo número de anencéfalos preserva o cérebro primitivo ou reptiliano, o diencéfalo e as raízes do núcleo neural que se vincula ao sistema nervoso central?Necessitam viver no corpo, mesmo que a fatalidade da morte após o renascimento, reconduza-os ao mundo espiritual. Interromper-lhes o desenvolvimento no útero materno é crime hediondo em relação à vida. Têm vida sim, embora em padrões diferentes dos considerados normais pelo conhecimento genético atual…” (Joanna de Angelis.Psicografia de Divaldo Franco).
Por fim, é preciso ressaltar que o feto é um individualidade, é outra vida, não sendo, pois parte da mulher. Não é um questão de liberdade de escolha, posto que o que se gesta é um ser inteligente que padecerá sofrimentos atrozes ao ser ceifada sua oportunidade de reencarnar. Legalizar o aborto é aceitar que o ser humano, na sua condição mais indefesa seja assassinado, sem falar que a própria mulher se vinculará a processos dolorosos no porvir.
Lutar pelos direitos femininos é não permitir que sua dignidade como pessoa humana seja cerceada, o que não quer dizer desrespeitar a dignidade da pessoa humana que está sendo gestada. É buscar amparar a mulher que não quer ser mãe, sem, no entanto, ceifar a vida humana que nela se desenvolve.
Lutar pelos direitos femininos é não permitir que sua dignidade como pessoa humana seja cerceada, o que não quer dizer desrespeitar a dignidade da pessoa humana que está sendo gestada. É buscar amparar a mulher que não quer ser mãe, sem, no entanto, ceifar a vida humana que nela se desenvolve.
Somos espíritos. Estaremos sempre caminhando pelas vias que escolhemos para nós conforme nossas obras. Nossas dores são sintagmas divinos a revelar os passos de alhures, o que precisamos melhorar. Tenhamos responsabilidade com a vida, a nossa e a dos outros. Não estamos aqui a passeio.